Almas Tocantins no Contexto Brasil


O que aconteceu com a nossa Cidade e com a nossa Região.

Autor: Mauro Moreira da Nóbrega
Pedagogo - UNITINS
Especialista em Gestão da Administração Pública – Universidade Castelo Branco


                                                   























Pessoas que vivem no Município de Almas-TO, há anos, que nasceram por aqui de 1985 para trás, ou que vieram de outras regiões para Almas, antes do ano acima citado, vão se lembrar de tudo que irei relatar aqui. Todos aqueles que se ligam em fatos históricos ou na própria história vivida no dia a dia, irão viajar no tempo, e com certeza farão uma reflexão sobre tudo que vem acontecendo.
Almas dessa época era uma cidade pacata em todos os sentidos. Mas tivemos momentos de economia aquecida, como por exemplos na época dos garimpos: Arroz, Virassaia, Garrafas, Papagaio, etc., Na década de 80, quando Almas ainda pertencia ao Estado de Goiás, houve por aqui o Órgão Estadual – METAGO (Metais de Goiás), iniciando a exploração da Mina do Paiol, que foi interrompida pouco tempo após o inicio da operação por uma demanda de terras entre o Estado de Goiás e o então proprietário da Fazenda Mateus Lopes, Chiquim das Moças. No período dessa demanda, o Estado de Goiás enviou aqui para Almas, alguns policiais vindo de Goiânia, para fazer o serviço de guarda na Mina. Esses policiais andaram criando alguns problemas por aqui principalmente com as moças, na danceteria que funcionava perto da Rodoviária, inclusive obrigando algumas a dançar na marra com eles. Em 1988, com a Criação do Estado do Tocantins, já com a demanda da terra resolvida, este órgão deixou o Município de Almas, que passou a pertencer ao então Estado do Tocantins. Em 1993, a Vale do Rio Doce, iniciou o processo de exploração da referida Mina do Paiol, que perdurou até o final dos anos 90.
Eu quis fazer esse apanhado, para que vocês leitores possam entender aonde eu quero chegar.
Nesses períodos de que eu chamaria ERA DE OURO, ou do OURO aqui em Almas, tivemos alguns acontecimentos que marcaram época.
Como a quantidade de ouro que se extraia principalmente no Garimpo do Arroz, era muito grande, e o Brasil vivia naquela época uma inflação desenfreada, e o ouro valia muito, assim como ainda vale até hoje, vieram para Almas, muitos Garimpeiros de diversas partes do país atraídos pela fama do Garimpo. Em função disso, algumas mortes violentas aconteceram por aqui, como ainda acontecem em regiões produtoras de ouro, isso tudo naquele tempo chocava demais a cidade, em razão da mesma ser constituída de pessoas simples e humildes e que não tinham o costume de conviver com essas barbáries. Dificilmente se ouvia falar em roubos, assaltos. Tráfico de drogas e prostituição de menores. Não me lembro de nenhum caso da época.
Tínhamos aqui em Almas, Sr. Ary Pereira Borges (Sr. Tapuio) como Delegado, e dois policiais para lhe dar apoio. O Veículo Policial era o Fusca Borboinha de Sr. Tapuio. Fora os casos que citei de algumas mortes em função dos garimpos, o resto era pura paz!!!!
Ladrão só se ouvia falar em notícias de rádio, quando algum se atrevia em aparecer por aqui, era logo identificado e preso ou desaparecia sozinho. Exceto no Sábado de Aleluia, que por aqui tinham o costume de roubarem algumas galinhas nos quintais para fazer uma boa galinhada. Mas se o dono descobrisse quem roubou e desse queixa na polícia, o ladrão ou ladrões eram obrigados a pagar todas as galinhas roubadas.   Falar em drogas era o mesmo que falar mal de Deus. Quem se atreveria?. Meninas eram meninas até virarem moças de verdade, e quando mocinhas podiam trabalhar em casas de família, para ganhar o seu próprio dinheiro, e aprender a assumir responsabilidades. O mesmo acontecia com os meninos, podiam vender pão, doce, bolo, picolé, abacate, podiam engraxar sapatos, podiam limpar quintais, com o mesmo objetivo das meninas, ou seja, para ganhar o seu próprio dinheiro, e aprender a assumir responsabilidades.

Em todo Supermercado tinha um monte de Batebucha no canto da parede, quem se interessasse podia comprar à vontade. Na prateleira, caixas de espoletas, tubos de pólvoras e vidros cheios de chumbos para o cliente escolher o calibre.O trabalho que a gente tinha na hora de comprar a Espingarda Batebucha, era o de escolher a que tinha o cano reto, pois o que mais tinha era cano torto!  Não tinha restrição nenhuma quanto a idade para comprar, pois eu com meus 15 anos, era proprietário de umas duas. O cano era tão grande que quando eu colocava ela em pé, ficava maior do que eu. Todos os meus amigos tinham. Ninguém matava ninguém porque possuía uma arma.

Ficávamos na rua até altas horas sentados no terreiro, ou brincando mesmo no meio da rua, sem hora certa para dormir, e sem preocupação com a bandidagem. Saiamos para as festas e o retorno era em paz, pois não existiam perigos e ameaças nas esquinas, nem motoqueiros portando armas para assaltar alguém.
Almas, cresceu pouco em relação a sua população, mas a criminalidade cresceu de forma assustadora assim como em todo o Brasil. Não adianta colocar a culpa em políticas sociais não, pois antes também não existiam as tais políticas sociais e a ordem era mantida.
Moça grávida, era coisa rara e vergonhosa para a família, pois isso deveria acontecer apenas após o casamento, pois caso contrário viraria mãe solteira, ou mulher da vida livre, como eram chamadas. Em muitos casos, “CASAVAM NA POLÍCIA”, era o termo usado na época, mas o cabra não fugia das suas responsabilidades.
Uma pequena cidade com menos de 8.000 (oito mil habitantes), viver o terror de assaltos a mão armada às vezes em plena luz do dia, roubos e furtos de toda natureza, e triste e preocupante. O tráfico de drogas e a prostituição aumentando a cada dia, e não se ver uma luz no fim do túnel. Meninas de 12, 13, 14 anos grávidas. Isso era coisa inimaginável por aqui até o final dos anos 80.
Hoje em dia, em pleno 2017, mesmo com tamanho crescimento da criminalidade, contamos com os mesmos dois policiais como nos anos 80, até tem mais às vezes, mas sempre são dois na ronda, tentando fazer alguma coisa pela segurança, com a cara e a coragem que Deus lhes deu. A criminalidade cresceu a níveis quase que incontroláveis, a impunidade cresceu na mesma proporção, e a população está se tornando a cada dia, refém da criminalidade que antes era uma prática em grandes centros, e que agora tomou de conta dos pequenos municípios desprovidos da segurança adequada.  Nós que vivenciamos essa transição da paz para a criminalidade, e acompanhamos a sua evolução, ficamos a imaginar, se isso não for combatido com rigor, o que estará acontecendo daqui uns 10 anos.

“Só o tempo dirá”






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